quarta-feira, 23 de maio de 2007

Alfa-Romeo Bimotore "Ferrari"

Considerado por vezes como o Ferrari visto ter sido o 1º modelo a envergar o "Cavalino Rampante" nos flancos, o Bimotore foi uma tentativa de travar a supremacia Alemã na época de 1935.
O vetusto P3 (8C 3100 comprimido) tornava-se incapaz de conter o Mercedes W25 de 3.9 litros e o Auto-Union Typ B de 4.9 litros, na Formula Libre, onde não havia um regulamento restritivo.
Após a insistência pessoal de Benito Mussolini para que Tazio Nuvolari retornasse à Alfa, também o francês Rene Dreyfus e o monegasco Louis Chiron foram chamados para imporem o seu talento às escuderias alemãs.
A Scuderia Ferrari foi encarregada de produzir um carro capaz de fazer a Alfa Romeo ganhar novamente.
O projecto foi entregue a Luigi Bazzi que liderando toda a força de trabalho da Scuderia Ferrari projectou um novo chassis, capaz de albergar dois 8 Cilindri comprimidos oriundos do P3, um à frente e outro atrás do piloto.
Conseguia-se assim 540cv extraídos de um 6.3 (3165*2) contra os 430 do W25 e os 375 do Typ-B.
O diferencial ficaria localizado ao centro e a potencia era passada às rodas através de 2 eixos em "V".
Os motores eram acoplados a uma caixa de 3 velocidades, o chassis era dotado com 2 depósitos laterais, suspensões Dubonnet, e um volante central, que revelava a sua qualidade de monolugar.
O Bimotore ficou pronto em 4 meses com a intenção de correr nos GP rápidos, como Tripoli e Avus.
Em 10 de Abril Tazio testou a besta na estrada Brescia-Bergamo mas apesar dos +300km/h tornou-se óbvio que o carro sofria de excesso de peso, que castigava os pneus, e de um apetite voraz.
Em 5 de Maio, no GP de Tunis, problemas com os pneus obrigaram a que Nuvolari alinhasse no P3, para desistir ao fim de algumas voltas...
Os Bimotore não chegaram a correr! A "estreia" foi em 12 de Maio em Tripoli, presente a formação completa da Scuderia, com 4 P3 e 2 Bimotore, face a 3 Mercedes W25 e 2 Auto-Union Typ A (um dos quais com o perfil fechado, desenvolvido em Avus para velocidade pura, pilotado por Hans Stuck). Na classificação, o AU de Stuck foi o mais rápido com 220.4km/h seguido do Bimotore de Nuvolari, mas a grelha era sorteada, partindo o Tazio no meio do pelotão e Chiron na última fila.
Os receios acerca da capacidade de os pneus do Bimotore aguentarem 40 voltas sob o intenso calor Norte-Aficano numa pista empoeirada foram confirmados quando logo na 3ª volta (40kms percorridos) Tazio voltou à box para pneus e combustível. Felizmente o Mercedes de Caracciola desfez um pneu, voltando à box e o AU fechado de Stuck pegou fogo na meia distância, conduzindo-o ao abandono. Tinhamos Varzi AU; Caracciola MB; Fagioli MB e Tazio e Chiron AR... Na 30ª volta, Nuvolari atacou, passando Fagioli e Caracciola, mais tarde Caracciola admitiu que tinha deixado Tazio passar, pois conhecedor da inimizade com Varzi sabia que eles iam dar espectáculo. E tinha razão, os rivais italianos batalharam pela liderança roda-com-roda, trocando várias vezes de posição, num momento de pilotagem no seu melhor, quase um reeditar do GP do Monaco de 33... até que o Bimotore teve que voltar à box novamente. Os pneus de Varzi, castigados pela contenda também cederam, mas este quando voltou à corrida ainda perseguiu Caracciola, alcançando-o na penúltima volta, para rebentar novamente um pneu! Terminou Caracciola, Varzi, Fagioli e os Bimotore de Nuvolari e Chiron. Foi o melhor final "em equipa" na carreira curta destes carros.
Em Avus, para minimizar o perigo dos pneus a corrida foi dividida em 3 mangas, com 5 voltas as primeiras e 10 voltas a ultima. Na 1ª manga Nuvolari, que parou 2 vezes, ficou em 6º a 5 minutos do líder, o que o eliminou para as corridas seguintes. Na 2ª corrida Louis Chiron ficou em 4º. Nas 10 voltas Chiron foi 2º, a melhor classificação que este carro atingiu, principalmente devido a ter conseguido um método que poupava os pneus do Bimotore.
Porventura o melhor feito do Bimotore foi bater o recorde mundial do quilómetro à média de 321km/h nas mãos de Nuvolari na Autostrada di Firenze-Livorno. Tratava-se de uma versão mais leve, com menos de uma tonelada e com apêndices aerodinâmicos como o perfil projectado da cabeça sobre o motor traseiro; chegando a atingir de ponta 364km/h.
Apesar dos esforços da Alfa Romeo e da Scuderia Ferrari, o campeonato de 1935 foi para a Auto-Union e Rudy Caracciola. Mas resta sempre o orgulhoso desfecho do GP da Alemanha em 28 de Julho em que Tazio impôs o velhinho P3 de motor 8C 3800 às Flechas-de-Prata, nas barbas do próprio Hitler, ou deverei dizer bigode?!
O projecto Bimotore foi abandonado, para dar inicio a outros desenvolvimentos de versões melhoradas do P3 para os circuitos mais curvilíneos em que a força bruta dos 16 Cilindri eram desnecessárias. Ainda existem 2 Bimotore, um no Museo Alfa Romeo, que atendendo à paternidade é emprestado por vezes à Galleria Ferrari; outro no museu de Downington Park em Inglaterra. O Italiano é uma réplica, que utiliza algumas peças do original, enquanto que o Inglês é o resultado de um restauro de 10 anos, após ter sido recuperado grande parte do carro na Australia pelo curador do museu de Downington, Tom Wheatcroft. Este ultimo fez uma demonstração no Goodwood Festival of Speed de 2003.
Com quase 70 anos estes carros ainda fazem arrepiar os visitantes desses museus...

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